Até se chegar a um consenso, tudo indica que a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, passará por muitos debates dentro e fora do Brasil. A autorização para início das obras foi, inclusive, discutida na última semana durante o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), que é o órgão máximo de direitos humanos da instituição.
Durante a sessão do conselho, que ocorreu em Genebra, na Suíça, o caso foi apresentado pela organização Conectas, uma das entidades credenciadas para prestar informações à ONU.
“Expressamos nossa preocupação com a atitude do governo brasileiro para as medidas cautelares concedidas pela Comissão de Direitos Humanos em benefício das comunidades afetadas pela obra. A construção da Usina de Belo Monte ameaça a vida e, inevitavelmente, impacta a integridade de 24 povos indígenas”, afirmou, na ocasião, a representante da Conectas, Mariana Duarte.
Demanda - Aqui no Brasil, ambientalistas, especialistas e representantes da sociedade civil vêm travando uma verdadeira batalha. O assunto tem sido abordado em diversos eventos, e não foi diferente na 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizado em julho, em Goiânia.
A construção da usina de Belo Monte é vista como necessária para suprir a demanda de energia que o País terá devido ao crescimento econômico nos próximos anos. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em 2020, o Brasil precisará ter nada menos que 171 mil MW em potencial de geração de energia. Somando todas as fontes disponíveis hoje, o País tem 110 mil MW. O esforço equivale a mais de cinco usinas de Belo Monte ou então mais quatro de Itaipu.
O físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), afirmou que a energia elétrica é muito cara para o consumidor comum e que o potencial energético brasileiro é subaproveitado.
“O País utiliza somente 30% da sua capacidade hidrelétrica, apesar de ser o primeiro em recursos hídricos”, diz o especialista, que é ex-presidente da Eletrobrás. Em termos absolutos, o aproveitamento hídrico fica atrás da China, EUA e Canadá.
A construção de Belo Monte, portanto, seria um modo de compensar esse “déficit”. “O Nordeste já fez todos os aproveitamentos hidrelétricos possíveis. Hoje, o maior aproveitamento é no Norte”.
O projeto da obra, localizada no Rio Xingu, já existe há três décadas, mas nunca saiu do papel devido às críticas de ambientalistas, movimentos sociais e lideranças indígenas preocupados com a extensão da hidrelétrica em uma região de floresta amazônica e com os impactos socioambientais insuficientemente dimensionados. “Faltou o governo chegar a um consenso com a sociedade sobre fazer ou não a usina”, diz Rosa.